Ainda andamos nisto!!
Ontem para mal dos meus pecados assisti ao enésimo programa para discutir o aborto. O programa reunia os do costume, médicos, políticos, membros de associações etc... O objectivo era uma profícua troca de argumentos, o campo que se batia a favor do «sim» em futuro referendo era composto pela ex-autarca e política a tempo inteiro Edite Estrela que iniciou o debate salientando que era mãe e avô. E arguida menina Edite também não?
Ultrapassando a piadinha fácil, que em pouco abona pela seriedade do post, a dado momento levanta-se, do campo do sim uma criatura absurda, de uma organização que defende a despenalização do aborto e que apresenta o já clássico e saudoso dos tempos imemorais argumento de que «as ricas fazem os abortos em londres e em badajoz e as pobres no vão de escada», sendo que é imperativo de justiça social oferecer a possibilidade de IVG ás mulheres socialmente menos carecidas...
O argumento talvez funcionasse em 1950,60,70 mas não hoje. É absurdo considerar o aborto como uma conquista social, ou seja o que for numa perversa mente, só gente limitada coloca qualquer problema nos canones já habituais de ricos e pobres. Limitada ou pior, que vive em estado de estagnação mental desde 1974 e cristalizou o seu pensamento desde então...
Alias, boa parte dos argumentos apresentados pelos que defendem o sim, estão cristalizados, a falta de informação, a história dos contrastes sociais, a história de que uma barriga é pertença exclusiva de uma mulher etc... Ainda andamos nisto, com 30 anos de planeamento sexual, de milhões de contos e euros para campanhas idióticas de contracepção, de investimentos no serviço de saude, na prevenção para que sejamos servidos pelo argumento da jovem pueril que inexperiente se deixa apanhar por uma gravidez inesperada e surpreendente. Salvo casos raríssimos e graças a 15 anos de bombardeamento constante de sexo de televisões privadas, creio que poucos jovens, com idades superiores a 16 anos poderam invocar o argumento da falta de informação excepto se forem burros ou simplesmente inconscientes como parece ser o caso.
Lamentavelmente as aborcionistas desejam resolver a solucção com o problema, ou seja com a realização em hospitais públicos de IVG's. Ontem não ouvi nenhum dos defensores do «sim», essa conquista social a defender melhores políticas de contracepção, a par de uma responsabilização dos jovens e dos pais, do sistema educativo e em última instância dos próprios, pelo contráio, usando formulações hipócritas socorrem-se do vazio argumento que o «aborto» é uma chaga para a mulher, a par de defenderem a sua despenalização. Como se a panaceia mágica fosse terminar, salvo nos casos legalmente permitidos, com uma vida humana para salvar outra.
Ainda andamos a trocar argumentos de «camponesas e operárias», de uma sociedade que persegue as mulheres que clandestinamente realizam abortos, o que é falso, aos juízes, dentro do seu arbítrio é dada a possibilidade de graduarem as penas, desconhecendo nos últimos 15 anos qualquer caso de mulher que tenha sido presa por realizar uma IVG, pelo contrário, quem lucra com esse acto é que foi punido, as parteiras e enfermeiras que em clínicas clandestinas oferecem a saída fácil para esse problema que parte acima de tudo de uma falta de responsabilidade e de informação ou simples menosprezo pelas consequências dos actos mais simples.
Ainda se andam a comprar argumentos da sociedade repressora que pune e castiga quem escolhe a solução do aborto, o que é falso, muito por acção de intervenções equilibradas de ambos os campos, hoje não obstante a saturação que este tema causa há uma crescente compreensão para as pessoas que face a esta difícil escolha optam por este caminho.
Ainda andamos contudo a formatar o discurso de um problema a moldes com mais de 30 anos, os métodos contraceptivos melhoraram de forma exponencial, a pílula do dia seguinte e até outras cujo funcionamento desconheço oferecem hoje um maior leque de escolhas, o planeeamento familiar melhorou, consta já do curriculo do 8º ano (no meu tempo pelo menos) a educação sexual mínima. Doenças como a sida, obrigam hoje a uma prevenção mais precocee uma crescente sensibilização pelos mais jovens, não se entendendo como correcto formatar todo um problema ao binómio falta de informação ou condições-aborto.
Numa sociedade em que é crescente a exigência de responsabilidades dos jovens mais cedo, por estes serem mais independentes e desfrutarem de um estilo de vida diferente da geração anterior é muito mais apropriado colocar o problema nestes termos:
Liberdade - Responsabilidade
A negação de todas as consequências de actos que é criar um culto de desreponsabilização que em última instância levará à banalização da IVG, tal como sucede hoje com a pílula do dia seguinte, cuja liberalização resultou num uso disseminado e sem qualquer critério.
Não obstante 30 anos, com internets e choques tecnológicos...ainda andamos nisto!!!