O Telemóvel e o Monstro
Os petit episodes que ocorreu com a frequentadora do ensino público (diferente de aluna) e a professora de francês põe a nú mais uma vez a fragilidade das instituições públicas mas também da sociedade como um todo.
Ao ver as imagens, é impossível pessoalizar sinto um profundo asco por toda a situação, desde a turba ululante que goza o espetáculo de humilhação e gritaria, passando pela criatura que praticou a brutalidades com à vontade de um monstro e até pela conduta da professora que não soube gerir a situação com maior habilidade. A este respeito embora seja um adepto incondicional da responsabilidade individual por oposição a estereotipos, acho que um adulto responsável deve saber chamar à sanidade uma criança de 15 anos em vez de disputar um telemóvel tal qual dois primatas o fariam. A verdade é que toda a situação escalou, pelas atitudes e pelos participantes.
A escalada continuou pois com a divulgação pública repetida ad nauseam das imagens instilou primeiro a vergonha e o escândalo, depois a banalização e por a indiferença, quando os diversos intervenientes políticos tomaram conta da ocorrência, começando na ministra e no PGR e passando pelas sempre imbecis e estapafúrdias declarações da Oposição para quem a culpa de todos os males é do governo. Gerou-se portanto o ruído, discute-se o fait divers e as graçolas de cirscunstância em vez de perguntar se são estas situações normais ou comuns ou não.
Um aparte, há já anos se fala do clima de violência nas escolas, da indisciplina e do medo dos professores. Como sempre e mais uma vez neste caso os responsáveis políticos assobiariam para o lado se pudesse e continuariam contentes e alegres no caminho. Contudo mais uma vez e pelos piores motivos o problema passa para o forum dos media e opinião pública, tribunal que obedece ao princípio da irracionalidade e da imbecilidade.
De um problema há muito conhecido passou-se aos gangs, que existem, à teoria do vidro partido etc... Por outro lado a ministra já veio fazer declarações em contrário, assegurando que a escola é segura e não há motivos de alarme social. No interlúdio as imagens para nossa vergonha passam mais uma vez, e outra e outra, entram os sindicatos e os professores, a comunidade educativa (que significa coisa alguma) e o ruido aumenta paulatinamente. Decisões acima do joelho já começaram, da PGR que se antecipa a qualquer queixa, da escola e dos media que garantem já transferências e afins.
Mais uma polémica portuguesa, muita berraria, muito estardalhaço pouca sanidade e menos inteligência. A situação que poderia ser empregue como um ponto de partida para uma alteração ao paradigma disciplinar recaí mais uma vez sobre os velhos chavões como a falta de autoridade, a educação dos pais e etc...
Pessoalmente vejo a coisa de uma maneira muito simples, um dia mais tarde aquele e outros monstrinhos iram crescer e eventualmente arranjar um emprego, pelo menos entre subsídios, escola é como trabalho e não é estar em casa ou noutro meio, e como trabalho exige outra atitude, mais profissional e mais séria. Os monstrinhos têm que entender que na vida existem lugares aonde se exige mais solenidade e ~um comportamento diferente, lugares aonde a intimidação, a berraria e a gratuitidade da violência não servem de substituto a qualidades de esforço e competência, tudo isto no melhor interesse dos próprios e da sociedade.
Os professores querem voltar aos anos 50 e 60, anos dourados, nos quais os professores eram respeitados e havia autoridade e respeito. A respeito deste desejo inúmeros comentários me ocorrem, a começar pela "irreversibilidade das conquistas de abril" e outros chavões que essa classe profissional martelava avenidas a baixo. Numa atitude típica, agora de casa roubada querem repressão. Já diz um adágio político americano: "um conservador é um liberal que foi assaltado".
Até que se instile uma ética de seriedade nas escolas, nos trabalhos e na comunicação social o caso da "Pequena Patrícia" não passará a ser mais que um funesto e banal episódio no qual uma gordalhufa de 15 anos empurra uma adulta de menor estatura com uma turma de símios aos berros e na galhofa.
O pais até lá comenta...
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