O espírito e a realidade
Portugal é um pais amputado. Amputado por ser uma faixa esguia de terra mas mais ainda por ser amputado na cabeça. Oh lá vem mais uma crónica de sem pudor negativismo e “bota abaixismo” como diz o nosso primeiro bacharel da nação, e depois qual é o mal, posso não posso Dr. Pina Moura? Dr. Santos Silva?
Bem à revelia da resposta destes vou continuando enquanto posso… O actual estado de coisas faz lembrar os belos tempos da I República em que um punhado de burgueses da velha esquerda governavam o pais como um clube privativo. Os tempos de Afonso Costa entre outros… Nesse tempo uma pequena plutocracia, fervorosamente republicana e socialista à moda do século XIX, governava por decreto de Lisboa para o resto do pais, assente em compromissos com núcleos do Exército e da Marinha. Alias como bons meninos que eram a primeira coisa que fizeram foi decepar o “povinho” que militava nas carbonárias e afins à bastonada e de forma mais bem repressiva do que os velhos caciques monárquicos. Parece que lá para ’26 acabou a festa e ainda hoje pululam para aí uns ressentimentos e ressabiamentos… O clube privado dos velhos republicanos rapidamente se cindiu e com o passar dos anos a “Velha” e a “Nova” República lá chocaram ambas, um pouco à medida do que se passou com o fim da predominância dos putrefactos “Soaristas”, “Sampaistas” e outros que deram lugar a comunas retintos ou a novos fenómenos meteóricos como o “bonzinho” Guterres ou o Conde de Abranhos “Sócrates”. Lá nos perdemos como habitualmente sucede nesta pesarosa cróonica…
Somos amputados pois claro, no espírito, seja pela pequenez atávica do pais que se reflete nos espíritos, seja por séculos de ignorância do povo e das classes mais educadas que sempre andaram longe do mainstream de pensamento europeu, ou pior a reboque no pior sentido, a verdade é que o panorama intelectual e o espírito crítico dos portugueses não vale um diploma na Universidade Independente ou uma pós-Graduação em sanitas e afins…
A liberdade não vive do papel, mas nele se projecta, assim e acerca do libelo criativo luso cumpre questionar quantas centenas de obras estariam por publicar nos arquivos da censura? Afianço que muito poucos, ou mesmo nenhuns, ademais porque os censores, filhos do mesmo pais que os corajosos resistentes anti-fascistas eram broncos como as portas… O bom autor destas linhas é sempre em prol da liberdade do espírito e da criação artística contudo é nesse aspecto que os portugueses deixam muito a desejar. Sejamos pois francos a liberdade de pensamento, a verdadeira, que deriva somente da educação que resolvemos dar ao nosso espírito dificilmente está no DNA dos nativos. Pelo contrário, quanto mais contacto social tenho com os nativos no quotidiano mais acho que o Português agonia na liberdade pois infelizmente não conhece o seu verdadeiro significado, sucedendo o mesmo com a democracia, conceito que é confundido com tudo e mais alguma coisa, inclusive com anarquia.
Assim digo e de pleno pulmão, em Portugal sufoca-se num ambiente intelectual deprimente, numa comunicação social imbecil, e numa democracia proporcionalmente idiota, à mesma medida pois jornalismo e política andam de braço dado, se uns dão o palco, outros nele actuam e quem se quem dá o palco escolhe o show, neste caso de uma pobreza franciscana quem nele decide actuar faz na consciência de que para garantir um bom palco é necessário agradar aos seus donos.
Recentemente assisti a debates em meios de comunicação, fossem entre jornalistas, políticos, especialistas e mesmo a pequenas vox populi e fiquei enjoado para não dizer desesperado com a cretinice dos seus diversos intervenientes. Desde há uns meses deixei de ver noticiários televisivos e sou mais feliz, deixei de ler o jornal em mais de 5 minutos e sou mais feliz. Mais ainda deixei de passar cartão à gentalha nauseabunda política, a jornalistas e a televisões e sou mais feliz e livre mesmo. Deixei de comer a pacotilha do regime e muito me agrada. Evito discussões politicas, excepto com algumas pessoas mais próximas pois acho que qualquer debate em Portugal serve para tudo menos para esclarecer mas sim para “imbecilizar” qualquer tema, de maneira a discutir pormenores e historietas ao invés dos assuntos importantes…
Mais ainda dá-me um profundo asco ouvir as proclamações bacocas e os “samaritanos” que existem em cada português pois se o D. Sebastião se foi em Alcácer Quibir, deixou um pequeno Messias luso em cada “salvador da Pátria” investido de sapiência omniciente, é que não há saco, especialmente porque cada “Messias” luso têm o condão de se transformar em bovino sempre que se senta de fronte a um televisor, a par de ter o condão de se transformar em palhaço sempre que lhe colocam um microfone e uma câmara de tv de fronte.
Há muito vivo sob o lema de que para este pais que durante um pirafo de tempo durante o século XVI foi grande como mais ninguém o conseguirá, digo,e de bom som:
«Quero é que vão à M…. e dinheiro pra Suiça»
É tudo,foi um desabafo que me deixou feliz e sentindo-me como um ser livre pois escrevo o que penso e pouco me importa como serei julgado pelos meus pares…
PS: Este texto fantástico foi escrito por DML, na véspera de seu aniversário!