A coisa que não o é!
I) A GOLPADA!
O título aparentemente contraditório só poderá referir-se a uma coisa, ao trato de Lisboa, nome que importará à posteridade que começou por ser uma coisa que agora não o é mas cujo conteúdo é o mesmo. Confuso caro leitor, nós também...
Comecemos por partes, o Tratado Constitucional Europeu foi rachassado nas urnas francesas e holandesas, motivos vários que aqui não interessa aprofundar até porque estes foram ignorados pela clique de Bruxelas. Com o insucesso nas urnas e a impossibilidade de impor 3 referendos ao povo francês, um dos estados maiores da Europa, ao contrario do que sucedeu com os dinamarqueses e irlandeses no Tratado de Maastricht, os líderes europeus, burocratas zelosos e malta que anda lá por Bruxelas, fala a sua linguagem e mastiga um projecto europeu com um nome muito específico mas cuja pronúncia é proibida (FEDERALISMO E FEDERAÇÃO EUROPEIA), sob a capa de outros eufemismos entendeu que seria necessária uma alteração, um tratado novo e reformador que basicamente é a constituição europeia com menos alguns pozinhos. Diz Pacheco Pereira e outros que a similitude é de 90% com o tratado proposto a referendo. Diriam certamente os apologistas daquele documento que o Diabo está nos detalhes e que o tratado institucional é somente um instrumento que permite à UE funcionar a 27. Diriam mas não podem porque o Diabo é uma criação judaico-cristã e portanto blasfema do léxico europeista. (nota ao bom leitor: a piadola blasmefo é um termo cristão, realidade cultural cujo léxico de bruxelas desconhece...enfim boa piada na minha propria avaliação).
Continuando o que está em causa são várias matérias mas que trilham o caminho para uma integração europeia verso aos Estados Unidos da Europa ou da Federação Europeia. Por partes;
(i) diminuição do elenco de matérias sujeitas à unanimidade dos estados
(ii) aprofundamento dos mecanismos de política internacional
(iii) aumento da transferência de competências soberanas dos Estados para a União Europeia
(iii) reforço dos poderes do Parlamento Europeu em detrimento da Comissão
A respeito deste ponto e do anterior somos compelidos a fazer uma explicação. À guiza do reforço dos poderes do parlamento europeu esconde-se o germen do caminho federalista, o parlamento é em essencia o orgão representativo dos povos, veja-se nos diversos ordenamentos internos dos diversos estados. Contudo e sob este motivo nobre de aumento de poderes se esconde o monstro que abre as portas, a de que o parlamento europeu é o primeiro representante dos povos europeus e cujas competências cada vez se assemelham mais às do parlamento nacional, cujos poderes são paulatinamente esvaziados. A isto junte-se o facto dos partidos eleitos estarem organizados por famílias políticas e não por estados, estando pois criada a base para uma federação.
A esta luz a questão das minorias de bloqueio reveste especial importância pois ao contrário dos diversos parlamentos nacionais cuja regra (salvo casos excepcionais em função da lei a aplicar) é de maioria simples. Ora considerando que os principais estados congregam boa parte das populações europeias se entende o receio dos pequenos estados, não como o nosso que foi alegre e contente, e sem quaisquer interesses específicos a proteger. Note-se que a população nacional representa 10/493 dos habitantes da UE. Ou seja 2,02%...
Assim se entende o receio polaco e britânico que estão a passar um cheque em branco à UE. Daí a questão do referendo surgir novamente e daí que as cabecinhas pensantes políticas (PS-PSD-CDS) não quererem referendar um documento seco, abjecto e já recusado nas urnas de outros paises. Veja-se alias que há um compromisso europeu de não referendo, minimalizando o tratado como meramente reformador, além de querer impor uma maratona de aprovações e ratificações até ao final do primeiro semestre de 2008, ideia do "sábio" Jean Claude Junker que representa o Luxemburgo, vulgo pais que não conta pro campeonato, excepto o financeiro claro.
A golpada está à mão portanto e daí a irritação de bastantes "problemáticos" intelectuais que são contra essa coisa boa linda, unanime e maravilhosa que é a União Europeia.
E nós portugueses não necessitamos de nos preocupar, o José e o Aníbal sempre gostaram de agradar aos camones. Nada de burburinhos discussões ou manif's, aqui de serenos costumes, gente sã e boa mas desinteressada pelas políticas não se deve preocupar com isso de Europas e tal. Alias a coisa até têm um nome bonito e é de lisboa o resto são coisas para os políticos e técnicos!
II) O CORO
Os nacionais jornalistas mais uma vez deram um belo espetáculo de ignorância e obediência leal e cega aos ecos de Bruxelas. Os directos informativos como salienta JPP eram de três géneros, (i) ou que o acordo estava por minutos ou de que podia ficar tudo adiado para mais tarde, o que denota o bom trabalho e boas informações que estavam a recolher, sem nunca indicar absolutamente qualquer motivo; (ii) a teoria dos bons e dos maus (Polónia, Itália e Reino Unido) que impregnados de um egoismo histórico queriam impedir o momento de coroação dos povos europeus verso a uma europa melhor e mais não sei o que que me parecem é tretas ; (iii) e o momento fait divers, com duas sub variantes, a de propaganda a Sócrates que julgo não conseguir fazer um pensamento coerente sobre a Europa mas elogiadíssimo pelo seu papel conciliador dos diversos interesses e como Estadista (curiosamente quais eram os nossos interesses e quais foram os salvaguardados? pois ninguem entende, além de pespegar o nome de Lisboa na coisa) ou outros momentos que são especialidade dos nossos jornalistas, a informação inútil que comporta tudo, desde a mochilinha com foto células oferecida aos jornalistas e de uma originalidade extrema em homenagem ao "Choque Tecnológico", passando pela segurança, pela mobilização e mais aspectos de pormenor que sinceramente só servem para distrair do essencial, o corpo do tratado.
O coro ou récula de animais fez o seu papel verdadeiramente o de desinformar sobre o "Golpe de Lisboa". Claro que a insatisfação quanto à europa pagar-se-à com juros agravados muito mais à frente, mas cada vez mais nos aproximamos do ponto de não retorno. Um dia não muito distante prevejo que um governo secessionista europeu que se farte desta porcaria de coisa que esta a germinar mande é Bruxelas à urtigas!
Etiquetas: jornalistas, Tratado de Lisboa, UE