Espaço de crítica tendencialmente destrutiva

quinta-feira, maio 24, 2007

Mais uma da OTA

Hoje o dia anda cheio de novidades sobre a OTA, são as declarações de Mário Lino, as listas de consórcios e até Almeida Santos decidiu pronunciar-se.

Defende o vetusto socialista a OTA com unhas e dentes, alegando com um ar solene que "uma ponte dinamitada desliga o Norte do Sul do país". Risos. Recordo que neste momento existem 4 pontes em funcionamento (ou quase) na zona de Lisboa: 25 de Abril (sorry DML!), Vasco da Gama, Carmona (Vila Franca) e a quase pronta Ponte das Lezírias na A10.

Bom, portanto, para partir o país, seria necessário dinamitar 4 pontes.

Invertendo o argumento de Almeida Santos pergunto: Na margem norte não há viadutos? Que tal dinamitar um na A1 ou o big one da CREL? Não cortaria também a ligação do aeroporto à cidade que deveria servir?

Termino perguntando: Que interesses tem Almeida Santos em defender a OTA? Principalmente com um argumento...enfim...risível.

A grande boca de Mário Lino

Mário Lino decidiu agora aduzir alguns argumentos verdadeiramente deliciosos para justificar a opção de construir o novo aeroporto na OTA:

i) A sul de Lisboa existe um deserto.

ii) A construção de um aeroporto aí seria o equivalente a uma pessoa aparentemente saudável que tem um cancro nos pulmões.

Começando pela primeira que já deu azo a respostas azedas (e bem) da oposição. Comparar a margem sul a um deserto é reduzir à insignificancia os muitos milhares (não arrisco a palavra milhões) que vivem na área metropolitana de Lisboa do outro lado do rio. Esquece-se Mário Lino que a AML engloba também municípios na outra margem. Esquece-se também que Setúbal (ainda que com um desemprego enorme) é uma cidade de tamanho razoável.

Enfim, a margem sul está para Mário Lino como para os turistas que visitam Lisboa: "Marrocos é já ali?"

Ainda que a primeira declaração tenha dado mais brado, a que mais me molesta é a segunda. É de um mau gosto atroz a comparação que Mário Lino faz com uma doença horrível. Apenas quem nunca passou por isso (directamente ou perto) poderá fazer um comentário com este grau de imbecilidade. Que comentasse algo do género: "meter um aeroporto em cima de um aquífero, é semelhante a um cancro."

Mas não, tinha que tentar ser piadético e atirar para o ar umas baboseiras.

A estúpida alegoria é digna de figurar nos anais da história da política portuguesa ao lado da piada dos hemofílicos.

domingo, maio 20, 2007

As mulheres de César

Confesso que adoro políticos que fazem a sua carreira assente na defesa da moral, legalidade, bons costumes e afins. São os mais fáceis de apanhar em contradição, a mentir, ou com a careca de fora. É interessante ver a agonia pública destes filhos pródigos.

Vejamos Wolfowitz. Aumentou a namorada quando entrou para o Banco Mundial e enviou-a para o State Department. Alegadamente o aumento ter-se-á ficado a dever à "chatice" que isso tinha provocado na carreira da sua dama. Primeiro problema, envolveu-se directamente no caso e afastou o Director de Recursos Humanos e o Vice-Presidente para a área legal do assunto. Segundo problema, aumentou-a tanto que toda a gente no Banco Mundial ficou a morrer de inveja. Terceiro, aumentou a babe para valores superiores aos da própria Condoleezza Rice. Quarto, tentou tapar o sol com a peneira. Quinto, quando a notícia estalou teve a pior atitude possível: agarrou-se ao lugar e tentou atirar as culpas para cima de terceiros.

Resultado sai pela porta pequena, depois de um relatório de investigação demolidor e prestes a sofrer uma moção de censura do conselho de governadores. Com isto, arrastou para a lama o nome do Banco Mundial e mostrou que por muita retórica que se professe de querer acabar com a corrupção no Terceiro Mundo e nos projectos financiados pelo BM, na realidade, esses princípios não são para levar a diante quando o assunto lhe toca directamente.

Liquidou a sua carreira como chefe do BM por 60 mil dólares. Caso tivesse conquistado a simpatia e respeito dos seus subordinados - ao invés de se rodear dos habituais cães-de-fila trazidos da administração Bush - e mostrado alguma competência, provavelmente isto teria passado despercebido.

Assim, quando o apanharam na curva pessoas e países com interesses e agendas próprios, não hesitaram em deixá-lo arder em lume brando. As suas atitudes posteriores ajudaram.

Mas há mais uma mulher de César, desta feita no nosso burgo. O paladino dos bons costumes, da moral, da legalidade, dos inválidos, dos Estudos de Impacte Ambiental e do departamento jurídico de uma empresa pública municipal, também foi apanhado nas curvas da vida.

Descobriu-se agora que o gabinete de Sá Fernandes, Paladino-Mor do Reino, tinha 9 assessores. 9. Nove. Nove badamecos a trabalhar para um vereador SEM PELOUROS. Ou seja, que graças à estupidez da Lei das Autarquias Locais, não faz nenhum trabalho em prol da cidade. 0, nickles.

E a defesa do Paladino Fernandes é magnífica: Carmona e Fontão de Carvalho ter-lhe-ão dito que podia ter 6 assessores. Como dos 9 apenas 3 estão a tempo inteiro, feitas as contas é como se tivesse só 6. Parece o milagre da multiplicação do pão. Not so fast. É irrelevante o estatuto de tempo inteiro ou tempo parcial.

Por um lado, ninguém lhe disse que poderia ter até 12 assessores desde que estivessem todos a tempo parcial.

Por outro lado, é tão lógica a falácia como a história do desdobramento das viagens dos deputados (lembram-se? Levavam a família e iam todos em turística, pelo preço da viagem simples do deputado em primeira, não há aumento de custos, logo pode-se fazer).

É tão lógico tão lógico que o próprio Paladino Fernandes não se lembrou de um pormenor: se pode desdobrar assessores, então também pode desdobrar vereadores. Já que não tem pelouros, é considerado vereador a meio tempo, então o 2o da lista do BE deveria ter o direito de ser também vereador a meio tempo! Lógica da batata mais simples, não há.

Ademais, ainda vem dizer que foram as indicações que teve. Mas alguém lhe disse que ele não podia ter MENOS assessores? Foi impedido?

E pergunto eu: O que fazem 9 assessores de um vereador SEM PELOUROS? Recordo que (felizmente) o Paladino Fernandes não tinha qualquer competência na gestão da cidade. Nada. Zero. Rien de rien.

Então as 9 alminhas assessoram-no em quê? A farejar tudo o que é buraco para plantar notícias nos jornais?

E por fim, "la piéce de resistance":

"Como “tem que haver critérios para a contratação de assessores”, segundo Carlos Marques, o BE defende que cada partido tenha cinco assessores (economista, jurista, urbanista, coordenador e comunicação), acrescido de mais um assessor por vereador a mais, para haver proporcionalidade face ao volume de trabalho. Sá Fernandes vai defender amanhã a “moralização” da autarquia nesta área."

Como quem diz "agora que fui apanhado com a mão no pote das bolachas, ainda vou dar uma de senhor mãos-limpas e pedir a moralização da história dos assessores."

Não esteve dois anos a aproveitar-se da "falta de moralidade"? Então com que lata vem agora pedir mudanças?!

sexta-feira, maio 18, 2007

Sintomas da “Albanização de um Pais”

O sentimento de decadência prolongado sentido em Portugal hoje não é de todo infundado. Ao optimismo continuado dos 90 com os seus erros, vêm a década seguinte, por diversos motivos, nacionais e internacionais aplicar o correspectivo correctivo. Se o zénite dos anos 90 se atingiu com a Expo 98, obra de dois regimes, o Cavaquista e o Guterrista, a partir de 2000 veio uma dura ressaca. De entre os motivos do “boom” contam-se especialmente a partir de ’96-’97 os juros a baixa cotação que permitiram a muitos o acesso a bens de consumo que em décadas ou mesmo em anos anteriores seriam completamente impensáveis. Habitação própria, melhoria no parque automóvel, quantitativa e qualitativa, crédito ao consumo, viagens e crédito mesmo de sobrevivência…

Seja como for o pais definha, não apenas por motivos deste ou daquele governo mas antes por um estado de coisas que ninguém quer assumir, escolhendo por anos sucessivos vender ilusões ao povo, choques fiscais ou tecnológicos, modernização, acessibilidades, grandes obras públicas, tudo para todos com poucos a pagar e muitos a gozar o prato. Exemplos emblemáticos escolho dois, primeiro as SCUT’s que nos longínquos idos de 96 ou 97 já se sabia serem insustentáveis a longo prazo, hoje com encargos de manutenção e contratos com concessionárias que, fruto de incúria ou mesmo de conduta dolosa são prejudiciais ao interesse público. Sempre o foram e as oposições sempre o disseram, contudo uma vez governo a renegociação não será de todo uma prioridade, antes pelo contrario é varrida prudentemente para debaixo da mesa de onde nunca deveria ter saído. Outro exemplo emblemático foi a promessa e Guterres, “o homem das paixões”, foi a promessa realizada em 1999 referente à não subida até ao final do ano(de eleições) do imposto sobre os produtos petrolíferos, que não se veio a verificar, sendo contudo, logo desde Janeiro de 2000 agravado e de sobremaneira o preço de maneira a compensar os prejuízos entretanto sofridos.
Dois exemplos caricatos que ilustram somente que as promessas e os choques têm todos custos inerentes, tal como as borlas em portagens ou outras benesses análogas. O português, de vista demasiadamente curta e fruto de um sistema fiscal iníquo acha melhor não pagar, mesmo que a factura venha e de que maneira encapotada em impostos. Não vale a pena questionar a curta vista dos nativos pois se esta é assim é também porque está entranhada profundamente na psique nacional de que o estado muitas vezes o que dá com uma mão tira com a outra e com o pé e os dentes e portanto qualquer vitória ou curto adiamento é já ganhar, e impostos…que pague o próximo ou os ricos pois quando chega a hora de contribuir são todos remediados. Eu não me excluo também leia-se.

O reverso da mentalidade é quando somos sujeitos ao aperto resignamo-nos e continuamos, sofrendo a vexatória tributação, a par de suspirar-mos que foi bom enquanto durou…

Mergulhando em sintomas de “albanização” de um pais, sublinho alguns:

(i) enorme emigração de mão de obra qualificada

Pergunto ao caro leitor quantas pessoas conhece que trabalhem fora de Portugal, quantas não aguardam essa oportunidade e quantas têm qualificações e valor? Pois bastantes mesmo!

(ii) descida reiterada e prolongada na qualidade de vida
(iii) divergência com os padrões europeus e empobrecimento gradual
(iv) aumento de carga fiscal, a par de ineficiência crescente do estado
(v) má qualidade de serviços generalizada
(vi) salários baixos
(vii) péssimo sistema escolar público
(viii) crescente fosso de confiança entre eleitos e eleitores

ao ponto viii lanço como exemplo a situação na câmara de Lisboa que não alimenta qualquer emoção ou candidatos à seria, com programas sobre o joelho. Dirão as eleições são intercalares, contudo a dispersão de candidatos e de votos nas primeiras sondagens são sintomáticas de que as pessoas tem cada vez mais dificuldades em escolher em quem votam. Ou como diria alguém há tempos: «em Portugal está cada vez mais difícil saber em quem votar.

(ix) Clima de atrofia intelectual e social
(x) Sentimento de crise continuada, período de estagnação económica

Bem dirá o caro leitor que são alguns sintomas de natureza meramente subjectiva e que raras vezes escreveu este autor de outra forma. É um ponto, contudo o sentimento de que o pais marca passo em relação à Europa, aliado a um crescente mal estar têm acima muitas causas, agravadas pelo facto de que a comunidade politicamente organizada que é o pais falhar enquanto organização.
Definhamos pois é uma certeza, definhamos entre polémicas judiciais, “casos” e atola-se o pais num pântano clássico entre uma esquerda e direita cujos argumentos estão completamente viciados, as receitas e remédios velhos, os actores com casacos coçados e linhas gastas e o tão típico sentimento nacional de que nada é responsabilidade de ninguém pois alguém virá depois e alguém já veio ontem.

É pois um facto, hoje na Europa o pais definha e agonia lentamente. Soluções aceitam-se…Eu proponho três, um verdadeiro espírito crítico em Portugal que não resvale entre o “treinador de bancada” e o “velho do Restelo”. Um ímpeto de mudar sereno, e não choques ou iniciativas ou mezinhas miraculosas que tiram a uns para alimentar classes políticas ou pior ainda para alimentar cliques de funcionários tão inúteis pela sua incompetente actuação se provam úteis. E por fim um realismo saudável que veja Portugal como o pais que é pobre e pequeno mas com potencialidade pois só com os pés na terra se podem fazer mudanças estruturantes a longo prazo que conduzam a uma melhoria de condições de vida generalizada. E já agora, socialismo não para a gaveta mas sim para a latrina.

terça-feira, maio 08, 2007

Ha AVEs por ai

Ao contrário do confrade DML sou apologista do comboio como alternativa válida ao avião para as deslocações entre cidades como Lisboa-Madrid ou Madrid-Barcelona.

Em Barcelona há muito que se suspira pela chegada do comboio de alta velocidade (AVE) principalmente as pessoas que têm de efectuar a viagem para Madrid regularmente através da chamada ponte aérea da Iberia. Recentemente fui a Madrid e optei por ir de comboio (não-AVE) pois a diferença de tempo e de preço entre as duas opções era negligenciável e apreciei a experiência (não tanto com o processo de compra de bilhete, mas isso é outra história). Fui bem sentado, confortável, não houve filas de espera, mudanças de porta de embarque, check in, etc.

Certo é que o AVE em Barcelona está prometido para este ano e tudo indica que os prazos venham a ser cumpridos. Pode ser que seja desta, pois também (nos tempos do PP) se dizia que o AVE chegaria em 2004 e à fronteira francesa em 2006. Estando nos dias que correm os governos central e autonómico alinhados sob a mesma bandeira socialista, torna-se mais fácil acreditar nas boas intenções dos políticos. Business as usual.

Ontem começaram os testes no penúltimo troço da linha do AVE, chegando este agora a pouco mais de 12kms da capital catalã. No final do ano, iniciar-se-á a exploração comercial do dito e com uma velocidade garantida de 300km/h as duas cidades ficam à distância de duas horas e meia, o que deixa as vantagens do avião a "voar". É que só o tempo de voo são uma hora e dez minutos. Fora potenciais atrasos e o tempo de espera no aeroporto.

Em comparação em Portugal continuamos em estudos e projectos. A 3ª ponte, a entrada pelo Sul ou pelo Norte em Lisboa e detalhes que tais continuam a emperrar a verdadeira implementação da alta velocidade. Se bem me lembro, o primeiro projecto do TGV apareceu em 1997 ou 1998. 10 anos depois continuamos na mesma, estudos, estudos e mais estudos. Linha férrea é que nem vê-la. Raios! Também há 10 anos ou coisa que o valha que temos comboios pendulares que não circulam ao máximo da velocidade em 90% do percurso Lisboa-Porto. Não é de espantar que hoje uma viagem de comboio entre Lisboa e Porto demore sensivelmente o mesmo tempo que uma viagem Madrid-Barcelona quando a distância entre estas duas últimas cidades é praticamente o dobro. Nem me quero lembrar dos milhões "investidos" nas "melhorias" da Linha do Norte. Até agora nickles, papagaio.

Apenas baboseiras como a da Secretária de Estado que atirou para o ar o valor de 100 euros para os bilhetes para Madrid (ida e volta? Só de ida?). Primeiro, esses números já tinham sido apresentados pela RAVE em 2005 (e tenho ideia que eram ligeiramente inferiores) numa viagem "virtual" em que até simulacros de bilhetes entregaram; segundo porque apresenta em 2007 e a preços de 2007 um produto que estará no mercado na melhor das hipóteses, descontando mais atrasos nos projectos, mudanças de ideias e anos "anormalmente pluviosos" (private joke para quem lida com obras públicas), em 2013. Daqui por seis anos. Seguramente que na RAVE também terão pensado o mesmo que os engenheiros da RENFE dizem à boca pequena sobre a Ministra dos Transportes: "O que vale é que é a última inauguração que faz de um AVE", referindo-se à gaffe da referida em recusar veementemente a exploração comercial do serviço à velocidade de 350km/h ainda que as linhas, comboios e sinalização estejam preparados para esse efeito. Os engenheiros da RENFE percebem o essencial da coisa: as hipóteses de sucesso do AVE sobem proporcionalmente com o aumento da sua velocidade de exploração. Ou acham que o recente recorde de 572km/h do TGV francês foi para inglês ver?

Pena é que do lado espanhol da fronteira se preparem para limitar o AVE a uma velocidade máxima de 250Km/h e um traçado estupidamente sinuoso. Aí sim está o maior óbice ao sucesso da linha Lisboa-Madrid: garantir que o trajecto se fará em duas horas e meia - três horas.

Quanto aos preços dos bilhetes, em 2013 logo veremos como está o preço do petróleo, a saúde financeira das low cost que servem Lisboa-Madrid e os preços que politicamente se quiserem determinar para o serviço. Ou alguém acha que os 70-75 euros que custará o bilhete de ida Madrid-Barcelona cobrem os custos de exploração?

Já os custos de investimento, esses, de um lado e de outro da fronteira são perfeitamente irrecuperáveis.

Terminando com o mercado de clientes potenciais. Em 1990 quando abriu a linha Madrid-Sevilha, ou nos anos 80 quando começaram a ser exploradas as linhas francesas o mercado ferroviário de alta velocidade não existia, criou-se. E com a cada vez maior integração entre Portugal e Espanha, sendo certo que o volume de passageiros não será semelhante ao eixo Madrid-Barcelona, acredito que a ligação entre Lisboa e Madrid se irá tornando progressivamente mais utilizada. Há cada vez mais portugueses em Madrid e eventualmente espanhóis em Lisboa. Daqui por 10 anos, mais haverão.

segunda-feira, maio 07, 2007

Bisou

Ontem foi noite de dupla:

i) em França

A vitória de Sarkozy, há muito esperada vale por ter sido feita com base num novo programa, prometendo uma mudança séria e profunda nos costumes e valores dominantes da V República. Como irá Sarkozy exercer o seu magistério ainda é cedo, contudo a tradição histórica francesa recente e nem tanto demonstra que os franceses preferem presidentes ao género do “Imperador” Napoleão ou de Gaulle. É ainda cedo para fazer esta antevisão, ficando contudo a nota e a tradição. O discurso de vitória de Sarkozy fica marcado pela generosidade para com adversários e ideias fortes que realizam uma súmula da sua plataforma.

Disse o vencedor que ia ser feita a reabilitação dos valores como o trabalho, o mérito, a disciplina, o desagravemento fiscal e a autoridade, que era a todos que competia tornar a França grande. Ora as palavras são deliberadamente vagas e indeterminadas para se prestarem a variadíssimas interpretações, contudo a sua inserção no léxico político é uma “cavacada” no politicamente correcto que há muito e por tendências libertárias ou mesmo esquerdistas preferia temas de igualdade e fraternidade, como o diminuir de desigualdades ou a melhoria dos direitos, mesmo que na prática se piorem os mesmos ou se o faça a tal custo que os benefícios não o compensam por nada. Disciplina e autoridade não são há muito sinal de totalitarismo ou mesmo um estado policital, mau grado o que os arautos do politicamente correcto ou os media o façam dar a crer.

Os 7 pontos que separam os candidatos não se resumem a isso, contudo e de forma optimista apressamo-nos a adiantar que depois de Sarko nada ficará igual esperamos e que as forças de mudança o sejam de maneira a trazer novos ventos sobre a Península também, na qual o ambiente político está crispado do lado espanhol e amorfo e viciado do lado de cá.

Em politica externa duas linhas, a primeira europeia, de uma França que volta à Europa com o pragmatismo que se reputa ao candidato, nada de delírios ou grandes projectos constitucionais, mas pelo contrário um realismo prudente mas que possibilita que a França e a Alemanha voltem a encarreirar os seus interesses e os Europeus de forma mais construtiva e menos grandiloquente mas mais verdadeira com as aspirações dos povos europeus. Com sarko não irão haver tratados de 300 artigos que são mais ocos que as “madames” da bela e do mestre e que renegam mais do que afirmam a matriz europeia. Outra palavra para as relações atlânticas, sobre as quais interessa e muito reafirmar axiomas simples mas esquecidos pela hipertrofia de pensamento de alguns que andam por Bruxelas ou pela esquerda socialista francesa, a de que a amizade é o vector comum ,a de que os valores são grosso modo os mesmos e de que a França dentro deste quadro não se recusará a defender os seus interesses em conjugação com os EUA. Palavras e teses como as de Vedrine ou outros sobre a “hyperpuissance” ou outras que proclamam a super Europa alinhada com Moscovo ou Pequim iram como o Sr. Chirac para as memórias espera-se.

ii) na Madeira

A Madeira é um Jardim do Jardim. 30 anos, 9 vitórias, quase 2/3 dos votos expressos. Uma campanha marcada pela hostilização da lei das finanças locais e pela denúncia dos colaboracionistas com o continente fez sucesso. Mais uma vitória retumbante…

Os comentadores desfizeram-se em desculpas, brados de populismo e demagogia ou outros pretextos para explicar muito simplesmente que o povo se pronunciou de maneira clara e inequívoca, reelegendo o “velho líder” mais uma vez. Em voga está também a curiosa tese de que as eleições foram inúteis e que foram mais uma birra do soba do atlântico. É um vale tudo habitual servido pelos socialistas de serviço aos órgãos de comunicação. Às luminárias pouco importam programas políticos ou mandatos recebidos pelo povo, especialmente se as regras são alteradas a meio do jogo. Há que admitir a coerência dos animais uma vez que Sócrates eleito com um programa faz desde o primeiro dia outro, mas também o que importam esses pormenores? O que importa o compromisso de um líder com seu povo? Para os inteligentes de serviço pouco ou nada…

Argumentando a lei das finanças locais pesou certamente no sentido de voto dos madeirenses, a par de saberem estes que o Governo Regional pouco ou nada poderá fazer para alterar a mesma, restando assim o cumprimento da legalidade, à qual AJJ nunca se escusou, utilizando de argumentos e mecanismos dentro do sistema constitucional. Pois é as argumentações começam a meter água e se calhar em tempos de vacas magras ou gordas os madeirenses escolhem o mesmo líder no qual confiam mais que o olharapo nº 4 ou 5 que é derrotado pelo PSD- Madeira. Pormenores pois claro, a técnica é já sobejamente conhecida, desacredite-se AJJ desacredite-se a natureza das eleições de maneira a minimizar uma enormíssima vitória política contra o monismo socrático.

Curioso que já vamos na 3ª derrota política do PS desde as eleições de 2005. Autárquicas, Presidenciais, Regionais na Madeira… Já conto três e mais ainda desejo que a 4ª seja dada pelo povo de Lisboa… Ainda é cedo para adiantar cenários contudo uma derrota em Lisboa seria em Xadrez o chamado “Cheque”!

quinta-feira, maio 03, 2007

Reflexão

Vários temas são merecedores das nossas palavras,

i) Sarko vs. Sego

Acho que devemos anunciar as nossas escolhas, não ao jeito de Pina Moura mas antes de forma clara e inequívoca. Ou seja se votasse em França votaria toujours em Sarkozy. Royal é pouco real, é mais virtual, promessas, juras eternas de empenho, muitíssima prosápia e boas intenções mas pouco comprometimento e uma aversão genética a qualquer tema que indicie perder alguns votos. Com a Turquia, cujas negociações começaram em 1964 para adesão à EU umas palavras ocas e sem quaisquer sentido, umas vagas menções ao invés com Sarkozy a posição é clara e bem explanada foi por AOC. Continuando ao longo do debate era visível o nervosismo de Royal notório nas contracções esporádicas no pescoço ou na brusquidão de movimentos aquando respondia a Sarko. Bem no marketing e melhor industriada Sego ao falar buscava sempre a câmara, falando para os espectadores, ao invés de Sarkozy que respondia à sua interlocutora.

Cansa-me Sego contudo pois “matraqueia” vezes sem conta as expressões vazias que caracterizam o socialismo. À politica educativa, Sarko apôs rigor, exigência, disciplina, trabalho e autoridade. Sego preocupa-se em que “todos consigam”, chavões como mais cultura nas escolas, que é necessário motivar os professores e impedir com que os alunos cheguem com medo de manhã à escola por não terem os deveres feitos, ou melhor ainda semanas com os pais na escola, enfim o disparate corria largo. Mais ainda é a douta socialista contra a competição e os rankings na escola pública, é o velho “colinho” socialista no qual devem todos ser medíocres para que não hajam bons. O bom e velho igualitarismo que afina a bitola pelos piores e que os melhores sim são casos de mau exemplo e que descobre sempre um fundamento económico-social ou seja a luta de classes para explicar que o menino têm é preguiça de estudar e que sendo pobrezinho só poderá ser pobrezinho. Enfim a receita é a já sabida, os que tem que paguem impostos os que não tem que mamem do estado.

Continuando o périplo “Segolenico” é muitas vezes dito e escrito que Sarko será eleito com os votos da extrema direita do Sr. Le Pen, pois é a Sego só conta com os votos de todos os comunistas, estalinistas, trotskistas e vermelhos retintos cuja última novidade política são as directrizes da V internacional socialista de 1936 e cujo modelo social só conhece virtudes e para quem o “gulag” é um prato culinário exótico. Mas enfim nem iremos para aí, figuras como José Bové, Cohen Bandit ou outros são sempre mais picturescos se o sol for vermelho. É o mesmo com Chavez ou mesmo o mítico comandante, mas nem vamos por ai mesmo. Sego sobre a Europa continua com as tiradas do dia de Bruxelas, uma Europa mais forte, cooperações reforçadas. Diálogos, Uniões, tratados, cimeiras e boas vontades que chocam sempre na exiguidade dos povos ou nos que simplesmente não se rendem a um estado europeu criado sem convicção, necessidade ou mesmo apoiantes, fora dos corredores de Bruxelas. Quanto à constituição europeia, «sitalão», ou seja, sim, talvez e não! Sarko é claro, não, os franceses já se pronunciaram sobre o documento, pelo que andar a recalchutar pneus é mais para o Khadafi dos pneus que para líderes europeus.

Não preciso de veicular os méritos de Sarkozi, mas aponto alguns por alto, i)posição em relação à emigração; ii) a política do real, ou seja que o estado de coisas que vigora têm de forçosamente mudar, e que é melhor mudar hoje e por vontade própria que daqui a 10 anos no meio de profundas e perigosas convulsões sociais; iii)menos impostos; iv) uma política europeia clara e dirigida a objectivos claros em vez de declarações de princípios inócuas e perigosamente irreais; v)política de combate criminal no qual têm provas dadas; vi)regresso de palavras como esforço e trabalho como sinónimos de cometimentos longos, sérios e árduos em vez de facilitismos socialistas que vêem e pintam a realidade en rose sempre à custa dos outros; vii) porque se opõe por razões históricas e culturais perfeitamente fundadas à demente entrada da Turquia na EU; viii) porque entende que a Europa e a França devem ter nos EUA um aliado de peso e que a melhor maneira de influenciar um aliado é trabalhar com ele, ao invés de contra ele e em parcerias estratégicas com a Rússia ou acordos com a China; ix) porque não é socialista.

ii) TGV-LISBOA-MADRID

Em artigo rapidinho do público disponível on line, é realizada uma brevíssima entrevista com uma secretária de estado que nos diz que o preço de um bilhete entre LIS e MAD rondará os 100€, ou seja aproxidamente o mesmo que as carreiras aéreas de custo normal e mais caro que as low cost… Genial, gastar milhões e milhões de euros para igualar a concorrência é digno de mentes socialistas e pouco abonatório para o interesse público. Isto numa primeira fase, uma vez que as linhas aéreas ajustaram a tarifa conforme o TGV ou seja farão melhores preços, apresentando mais vantagens como a rapidez e comodidade, a par de outros motivos de índole económica. Ou seja o TGV propõe-se a biliões de euros depois a realizar o mesmo serviço pelo mesmo preço mas por comboio. Suponho que a viabilidade económica da coisa se apresenta como muito baixa a solução, subsídios, taxas, etc… ou seja distorcer a concorrência de maneira a galopar o TGV a bem ou a mal pelas planícies do pais…

Quem não se encontra convencido da boa vontade do projecto, provavelmente será alguém que não foi iluminado pela divina razão Socrática como eu, admito, contudo ainda bem que não o fui,é sinal que não andei na Independente ou que somente não imagino uma família de 4 a ir a Madrid ao preço de €800 ou €600(com bilhetes p/os petizes a meio preço) quando uma viagem de automóvel custa 150€ (aproximadamente)… Não entendo a matemática da coisa…ou pior a entendo, há negócio como sempre… É demente…

iii) CMC

Parece que vamos para eleições em Lisboa, eu nem lá voto. Registo contudo que Marques Mendes teve a coragem de fazer o que há muito vinha prometendo e que causa angustias no PS uma vez que chegará a sua vez e não terá a mesma coragem. A par do digno registo, outros se impõe, primeiro de que a reacção popular não será a esperada, uma vez que o sentimento de atoleiro e de eterno retorno aos clichés do costume mantem-se. Ou seja um abano de leque não afasta o fedor que se faz sentir em toda a vida pública portuguesa, o de imoralidade, de ausência de valores e de soluções para um mal estar cada vez maior e exacerbado pelos tempos de vacas magras e de redução de mínguas regalias em que vivemos. É um facto, o ar que neste pais se respira é puído, o clima intelectual é limitado e o pluralismo na comunicação social começa e acaba no “Público” e isto com muitíssima boa vontade…

Era pois imperioso este gesto? Claro que sim, mostra uma diferença clara e o desiderato de cortar à séria com o lodaçal e grosso pantanal autárquico nacional.
Os portugueses irão jullgar MM e o PSD de outra maneira? Não!
Mudará algo? Nem por isso!?

Conclusão: Maus são os tempos em que os actos corajosos são fúteis e não servem de exemplo a ninguém ou poucos dividendos colhem junto da opinião pública.

Explicação, simples em Portugal não se vive, existe-se, não se respira, sufoca-se, não se pensa, vai-se com a maralha…

Como dizia alguém hoje: “Em Portugal está cada vez mais difícil saber em quem votar”.

POST DML!

Etiquetas:

A Força de Sarko

Sei que os meus co-bloguers (um em particular) se estará a borrifar para o resultado das eleições presidenciais francesas do próximo domingo. No entanto, parece-me que seria benéfico para todos, inclusivamente para aqueles que apontam aos franceses a responsabilidade pelo estado de indecisão e de podridão da velha Europa, de se debruçarem sobre as eleições e os seus candidatos.

Tendo visto grande parte do debate Sego/Sarko na TV5 (nem sabia que tinha esse canal fantástico!), penso que foi uma verdadeira lição de como fazer política de direita e de esquerda. Que escolham o caminho...

Não conhecendo o seu percurso político a fundo, penso que o debate de ontem mostrou que Sarko é um homem politicamente engajado, competente e com ideias claras sobre o que é preciso fazer para retirar a Europa e a França da situação de decadência em que está, e que ele, ao contrário da que a sua oponente, o assume plenamente como um desafio.

Assume e quer combater, devolvendo a França ao trabalho, ao realismo social, à diminuição da função pública, ao retirar de benefícios sociais, à restrição da imigração e a favor de uma Europa política. Contra referendos sobre a Constituição Europeia, "considerando que depois do povo Francês ter votado não, o texto morreu", contra a entrada da Turquia na UE, dizendo que basta de dar esperanças (vai para 47 anos de negociações) a um povo que, por muito relevante e valoroso que seja, situa-se geográficamente na Asia Menor.

Presença segura, incisivo, calmo e objectivo. Sem falinhas mansas, promessas iquantificáveis ou beneces distribuidas equalitariamente.

Do outro lado, temos o típico candidato socialista, mas com um defeito adicional, ser mulher.

Peço permissão por esta bomba política, mas de facto verificou-se que ser mulher é claramente um defeito, quando não estamos perante pessoas de qualidade indesmentivel. Nervosa, insegura, prometendo mundos e fundos a todos e a cada qual, sem posição definida sobre nada, e com um conjunto de frases vazias sobre a luta social e o seu projecto de uma França de Fidel, Chavez ou Morales.

Que os Franceses votem pelo futuro. Que votem pelo Liberalismo. Talvez isso devolva a França, a Europa (e quem sabe Portugal), aos seus respectivos povos.

terça-feira, maio 01, 2007

Paul Wolfowitz, a sua namorada e a mulher de Cesar

Já várias vezes escrevi sobre o problema de alguns políticos se montarem no cavalo da sobranceria moral e, quando menos esperarem, darem um valente tombo na primeira curva. Ou no primeiro vendaval inesperado.

Desta vez a triste sina tocou a Paul Wolfowitz que tão bem havia escapado à razia nos neocons da administração Bush ao longo do último ano. A mudança de túnel de realidade não lhe permitiu manter-se a salvo das suas próprias asneiras.
Primeiro foi o episódio dos sapatos gastos e das meias com buracos, indumentária muito própria para o governador do Banco Mundial. Mas este episódio foi parar ao baú das anedotas.

Agora, e mais grave, foi a promoção da namoradinha de Wolfowitz dentro da burocracia do próprio Banco Mundial sem respeitar as regras internas da instituição. O próprio já veio a terreiro dizer que não se demite. Para quê, pergunto eu?
Ninguém questiona o direito da senhora (ou da rapariga) a ser promovida seguindo os parâmetros vigentes no dito Banco. O que é questionável é a sua promoção ao arrepio dessas mesmas regras, assente apenas no mérito de partilhar o leito com o governador. Se fosse num país do terceiro mundo, seria apenas "business as usual", uma forma corriqueira de nepotismo.

É aqui que entra a história da mulher de César do célebre provérbio romano. O Banco Mundial faz gáudio em defender uma política de tolerância zero quanto à corrupção nos projectos que financia. E a meu ver, muito bem. A corrupção é, porventura, o male que mais contribui para o fraco desenvolvimento de muitos países. O dinheiro para a gasosa como dizem em Moçambique. O Banco Mundial chega ao ponto de ter uma hotline para onde as pessoas podem fazer denúncias, inclusivé, de forma anónima. Levam a "coisa" da corrupção muito a sério, ao ponto de suspenderem projectos de milhões quando os governos dos países devedores fecham os olhos à corrupção e se recusam a afastar os prevaricadores.
Pena é que o Banco Mundial tenha dois pesos e duas medidas e não seja capaz de impor as suas draconianas normas dentro da sua própria casa.

Caso para terminar com outro provérbio: faz o que eu digo, não faças o que eu faço.
Certo é que a credibilidade do Banco Mundial no que toca à corrupção acabou de ir cano abaixo. Como poderá agora o Banco Mundial exigir que os países a quem empresta dinheiro não cedam à tentação da corrupção?
Ou acham que foi coincidência a expulsão do representante do Banco Mundial num país da América do Sul?