Espaço de crítica tendencialmente destrutiva

quarta-feira, abril 01, 2009

Livros

Há livros que não querem ser lidos. Há livros que escolhem quando querem ser lidos e outros há que nos escolhemos ler seja por trend, fixação ou simplesmente porque não temos outro melhor à mão... Há ainda aqueles que infelizmente lemos por obrigação profissional ou outras ainda piores.

Ocorrem-me livros que adquiri para todas as ocasiões e ainda uns quantos que futuramente irei adquirir. Sendo um apreciador de leitura, especialmente desde os 17-18 anos, ao contrário de outros que decerto leram "catrapázios" de filosofia que nunca existiram ou outros afins apenas por sound bite, a minha relação com a leitura foi intermitente até aos 17 anos.

Sempre li mas sem grande convicção ou afinco. Livros haviam que apaixonam o leitor por serem adequados à idade, por exemplo o "Naufrágio do Sepúlveda" da História Trágico Marítima, as "Minas de Salomão" de Ridder Haggart (revistas e reescritas por Eça de Queiroz) entre outros.

Sem entrar em detalhes para não derivarmos do ponto principal destas linhas há livros que não se deixam ler até certa altura, por exigirem um determinado "lastro cultural" citando a "soviética" professora de filosofia do 12º que tinha uma admiração por Platão e uma simpatia ímpar para os semanaristas que frequentavam a minha turma de liceu. Ainda hoje o flagrante contraste me pasma, no entanto, à distância de 11 anos as aulas de Filosofia pouco me diziam até porque enfiar Antero na cabeça de uns imberbes adolescentes de 18-17 anos é um pouco demais para mentes que são pouco brilhantes e ainda menos conscientes.

Mas enfim se o ensino da filosofia não fosse especialmente dogmático e não se limitar à compressão e concomitante calcamento de livros gongóricos e suas análises pelas mentes das sebentas da praxe para dentro das jovens (e impressionáveis) células cinzentas das cabeças dos alunos, o ensino em Portugal estaria a perder algumas das suas características milenares...

Sem mais derivas, prometo!

Desde os meus 18-19 anos que os meus hábitos de leitura se alteraram e raras são as semanas em que não leio com regularidade e alguma persistência. Se me perguntassem que objectos gostaria de legar à posteridade decerto seriam livros, não por mim escritos como é evidente pois cada linha desta prosa é decerto um castigo aos leitores habituais de melhores obras, mas livros por mim lidos e adquiridos.

Assim sendo e por conta da relação, nem sempre harmoniosa entre o livro e o leitor, ganhei desde há vários anos o costume de datar os livros quando os adquiro. O exercício é particularmente util, por diversos motivos, de entre os quais destaco primeiramente os estritamente jurídicos pois permitem-me na qualidade de proprietário exercer mais facilmente a sua reivindicação a terceiros que tentem apoderar-se do objecto controvertido, mas também porque a data permite enquadrar o estado de espírito (no geral) do adquirente. Outras referências também se podem encontrar como o oferente do livro ou ainda o local aonde este foi adquirido.

Em 31 de Janeiro de 2002 adquiri o livro "O Quinto Império" de Dominique Roux publicado pela Hugin Editores. Por diversas vezes o tentei ler, sem sucesso diga-se, devendo este contudo ser imputado a variadíssimos motivos.

Sem entrar em pormenores sobre o texto do mesmo e hoje que me encontro nas suas derradeiras páginas agradeco ao interessantíssimo livro a gentileza de não se ter permitido ler antes pois decerto a leitura ter-se-ia demonstrado com ignara e insonsa se não tivesse sido feita depois de ler outros autores franceses e não só...

Concluindo, duas notas à guisa de tópico de reflexão, em primeiro lugar, qual a relação que melhor exprime a relação entre um livro e seu leitor? Eu proporia a relação entre cavaleiro e cavalo.

Em segundo lugar e visando dar resposta a uma das questões de algibeira de muitos jornalistas, qual o livro da sua vida? A única resposta que imagino que um sincero amante da leitura, independentemente dos seus temas de maior interesse pessoal, será: todos!

Terminar um livro não é um fim mas apenas um passo para o próximo.

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