Num pequeno e de longa história país plantado à beira mar, com colónias ultramarinas e no qual reinava um mau estar que promanava do facto do sistema político se encontrar bloqueado um grupo de militares bem intencionados, desavindos com a política e sem qualquer programa político ou linha concertada decidiu por motu proprio e de forma espontânea e desorganizada marchar em coluna para Lisboa.
Desengane-se o leitor que julge que nos referimos ao 25 de Abril de 1974, corridos que são 80 anos sobre o 28 de Maio de 1926 não podiam estes deixar de passar incólomes pelo crivo deste repositório de pensamento modernista portugues, ou seja o nosso mui humilde blog!
Ontem em choque ideológico Costa Pinto e um artista qualquer discutiram largos minutos o movimento militar de 28 de Maio de 1926, seus antecedentes e consequências, bem como a dissociação que deste deve ser feito do Estado Novo e de Salazar.O jornalista servia de elemento decorativo no já de si soturno cenário interessante programa.
O movimento do 28 de Maio foi protagonizado exclusivamente pelos militares que, após o levantamento sem sucesso do ano anterior e um julgamento militar hilariante e pleno de episódios burlescos se revoltaram com sucesso contra o status quo à altura. Qual era o status quo? De desorganização nas contas públicas, de deficit, de crise económica e estagnação, de continuada imigração que sangrava o interior do país, de miséria e de uma total falta de desenvolvimento nacional que poderá ser exemplificado pelo facto do país à data não ter o presente autor e poucas pessoas terem conhecido um obra pública de relevo do período da I República. Mas enfim adiante, em 1926 estavamos já com 16 anos de I República, a tão prometida República que resolveria todos os males do sistema político rotativista somente serviu para perpetuar os anteriores problemas, substituindo a camarilha progressista ou regeneradora pelos Republicanos que dentro de uma generalidade que chamavam república escondiam fracturas interiores e grupusculos de quase infinitos e que transpuseram para a ordem interna do pais os seus achaques diários.
Embora não se estivesse no período pós-Sidónio, durante o qual os governos se sucederam, as conspirações de militares e civis ibidem e a violência grassava sem qualquer aparência de ordem ou direito, lembremo-nos do episódio da "noite sangrenta" de 1921 durante a qual elementos de esquerda revolucionária limparam o sebo a alguns dos velhos republicanos entre outros episódios, os governos sucediam-se com melhores ou piores resultados eleitorais e não tinham força ou simplesmente competência para resolver os males da pátria. Obviamente que a síntese não estando terminada é obviamente crua e básica, contudo crescentemente desde 1921-1922, a ideia de que estando trancado o sistema político era necessário ao sustentáculo do regime, que governava contra quase todo o paíss, num democrático sistema cujo voto se encontrava limitado a alguns letrados escolhidos a dedo, que era necessário aos militares enquanto instituição pegar em armas e alterar o estado da república. Não obstante o fenómeno fascista de 1922 de Mussolini com a famosa "marcha sobre Roma" que se aproveitou da saturação e passividade do Exército, que erradamente é associada ao 28 deMaio era almejado um pronunciamento militar
a maneira espanhola de 1923 com Primo de Rivera, semelhantes movimentos surgiam um pouco por toda a Europa, naGrécia, na Turquia e em muitos outros paises.
A historiografia moderna portuguesa desejosa de afirmar e criar mitos como o fascismo em Portugal e outros decalcam no 28 de Maio influencias fascistas italianas que não existem, existem sim semelhanças com a militarização dos sistemas políticos que se verificou em toda a Europa. O 28 de Maio como o 25 de Abril foram coligações "negativas"(vide Público de 28/5) que juntaram descontentes de todas as facções contra a República velha e demo liberal que nada trouxe de prosperidade ou de paz social. Costa Gomes, vice-comandante do Corpo Expedicionário Português pronuncia-se contra o Partido Democratico que monisticamente vinha dominando de Lisboa o resto do País, famosa ficou a sua frase:«Basta!» que numa palavra resume todo o ideário do levantamento militar. Tomando facilmente o poder que estava maduro instalam-se os militares no poder. Costa Gomes foi prontamente enviado para os Açores, aonde vêm a falecer no ano seguinte, tomando Carmona o poder.
Entender este período de estabilização da "situação" nome dado á ditadura militar não é fácil, os problemas do país mantém-se e agravam-se, um dos principais conspiradores Sinel de Cordes, figura interessante acerca da qual Salazar disse:«grande patriota mas um incompetente» toma desastrosamente conta da pasta das Finanças. Curioso é que os miltares gozam de prestígio e autoridade não só entre a populaça ansiosa por ordem e estabilidade por oposição à efeverscente República, mas também entre os denominados intelectuais, veja-se o caso de F. Pessoa que desde há muito se pronunciava por uma ditadura militar.
O 28 de Maio como amálgama ideológica que é rapidamente se instala e ganha consistência, por oposição á antiga República mais do que por ideário, entender este período, tal como outros de longo despotismo em Portugal é entender o homem da sombra, aquele que poucos conhecem mas que permite que outros ponham em curso o seu programa político, neste caso Carmona, noutros casos D.José. Aos mitos de e Pombal e Salazar voltaremos um outro dia...
Continuando, Carmona, militar, republicano e conservador toma conta do aparelho militar, contudo e depois do zénite revolucionário, não se esqueça o bom leitor que o séc. XX nacional foi pródigo em revoluções, muito embora nem todas sejam feriados, toma como necessário regularizar ou institucionalizar a situação política, os primeiros civis começam a ocupar postos nos ministérios, tomando especial destaque Salazar pelo trabalho nas Finanças. Salazar homem de perfil interessante, de origens humildes, bom académico e beato serve a Carmona que dá margem de manobra ao mesmo para encetar o seu programa revolucionário em contraposição ao anterior momentum republicano e liberal.
Carmona e Salazar formaram uma parceria militar e civil, Carmona tratou de por ordem e restaurar o prestígio dos militares fosse por uma melhoria do seu estuto profissional e carreiras, fosse por estes acederem facilmente a postos de prestígio na administração civil, veja-se por exemplo os casos dos Governadores ultramarinos que eram quase sempre militares e com poderes sobre as autoridades civis, mas não só. Os quadros e oficiais militares prosperam sobre Carmona que gerindo com astuta inteligência as suas aspirações políticas conservou sempre uma quota parte de militares nas estruturas políticas, fosse nas camaras corporativas, fosse no Governo de Salazar aonde os militares bem para além de Carmona conservaram sempre feudos ou quotas mínimas.
Salazar levou o seu programa a cabo, modernização e escolarização q.b. mas sobretudo reformas e estabilidade que tomaram de assomo os corações da classe média que a partir de 1932 prospera. Embora essas e outras matérias sejam temas para outros posts, voltamos á linha mestra ou seja que temos que distinguir dois períodos distintos, a turbação revolucionária e tomada de poder pelos militares a 28/5 com a sua subsequenbte institucionalização e devolução so civis, sendo para esse efeito coroado como presidente do conselho Oliveira Salazar. Desde 1926 e não obstante ameaças proletárias e levantamentos militares como o de 1961 e a Revolta das Caldas ou outros pseudo levantamentos a génese do Estado Novo manteve-se ou seja os militares a eles respondiam e entre eles se governbavam enquanto que os civis mantinham na sua esfera o resto.
O 28/5 marca algo de extraordinário, o início da institucionalização das Forças Armadas enquanto elemento de estabilidade da Governação em Portugal, exclua-se portanto o termidor do PREC e do 25 de Abril e veja-se que só em momentos cruciais voltaram os militares à política, a formula de Salazar e Carmona funcionaria enquanto em Belém se mantivessem os sabre alinhados e com dono, em Belém governariam as autoridades civis.
Conflitos houve entre Salazar e Craveiro Lopes, entre Caetano e Américo Tomás, contudo caí a ordem do Estado Novo precisamente por ser o pilar militar o fraco, é Tomás que não controla os militares e manieta a acção reformista de Caetano, não o contrário. Carmona era um homem interessantíssimo que sem ter uma linha política de fundo soube lidar com os fumos do 28/5 e suas tentações uma militarização excessiva, uma caudilhização ou a tentativa de criar um híbrido civil e militar.
Se sobre Salazar se escrevam bibliotecas e livros e se destilam ódios ou amores, sobre Carmona, homem franzino e fulcral do 28/5 e da história de Portugal pouco se fala e menos se lê, as semelhanças da relação entre Pombal e D. José á sua maneira são as mesmas com as devidas ressalvas. Ignoram os letrados e os historiadores da praxe as regras do poder ou seja que foi sempre Salazar que precisou de Carmona, já que os militares eram a salvaguarda e o pináculo musculado do sistema político.
Entender o 28/5 é entender o Estado novo, para o entender é necessário entender a I República que por sua vez implica entender o rotativismo consitucional, ou seja a história é uma longa cadeia intricada sem rupturas mas sim com uma continuidade inexóravel ora mais pacífica ora mais violenta, os revolucionarios de pacote ou os que manietam as forças históricas a seu bel prazer para interpretações a lá minute falham redondamente em buscar visões ideológicas ou metafísicas de capitães gloriosos em manhãs de Abril ou de militares carrancudos e sem graça que num solarengo Maio se pronunciam contra um estado de coisas, não sendo herois eram ambos homens corajosos e á sua maneira patriotas. Florir com cravos ou pintar de negro períodos históricos ou datas não abona muito sobre a lucidez de um povo que como ontem vimos é governado novamente por camarilhas e pandilhas que se servem a seu bel prazer.
(post nao revisto)